"Senhor, as Cortes ordenaram minha prisão, por minha
obediência a Vossa Alteza.
E, no seu ódio imenso de perseguição, atingiram também
aquele que se preza em o servir com a lealdade a dedicação do mais fiel amigo e
súdito. O momento não comporta mais delongas ou condescendências.
A revolução já está preparada para o dia de sua partida. Se
parte, temos a revolução do Brasil contra Portugal, e Portugal, atualmente, não
tem recursos para subjugar um levante, que é preparado ocultamente, para não
dizer quase visivelmente. Se fica, tem, Vossa Alteza, contra si, o povo de
Portugal, a vingança das Cortes, que direi?! até a deserdação, que dizem já
estar combinada. Ministro fiel que arrisquei tudo por minha Pátria e pelo meu
Príncipe, servo obedientíssimo do Senhor D. João VI, que as Cortes têm na mais
detestável coação, eu, como Ministro, aconselho a Vossa Alteza que fique e faça
do Brasil um reino feliz, separado de Portugal, que é hoje escravo das Cortes
despóticas.
Senhor, ninguém mais do que sua esposa deseja sua felicidade
e ela lhe diz em carta, que com esta será entregue, que Vossa Alteza deve ficar
e fazer a felicidade do povo brasileiro, que o deseja como seu soberano, sem
ligações e obediências às despóticas Cortes portuguesas, que querem a
escravidão do Brasil e a humilhação do seu adorado Príncipe Regente.
Fique, é o que todos pedem ao Magnânimo Príncipe, que é
Vossa Alteza, para orgulho e felicidade do Brasil.
E, se não ficar, correrão rios de sangue, nesta grande e
nobre terra, tão querida do seu Real Pai, que já não governa em Portugal, pela
opressão das Cortes; nesta terra que tanto estima Vossa Alteza e a quem tanto
Vossa Alteza estima.
José Bonifácio de Andrada e Silva".
Fonte: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=285344
acesso em 09/07/2020.
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